sexta-feira, 27 de março de 2020

RENASCIMENTO COMERCIAL E URBANO

A partir do século XI muitas mudanças aconteceram nas regiões da Europa nas quais predominavam o Feudalismo, ocasionando um grande crescimento populacional e um aumento substancial na produção. Por causa disso, as comunidades tiveram que encontrar uma solução para o excedente da produção. Começaram então a reestabelecer os contatos comerciais com outros feudos e a utilizarem novamente as moedas que outrora tinham ficado praticamente esquecidas, já que eram autossuficientes e só realizavam trocas de produtos internamente nos feudos.
            Já que a população havia aumentado e a produção também, não havia a necessidade de tanta gente trabalhar na agricultura, assim, muitos servos resolveram tentar a sorte como artesão ou comerciantes, mas como hoje, nem todos que iniciam um negócio tem sucesso. Aqueles que fracassaram, acabaram voltando para os antigos feudos, entraram na vida de mendicância ou mesmo iniciaram no ramo da criminalidade.

As feiras medievais

            A princípio, os comerciantes também conhecidos como mercadores, iam até outros feudos e aldeias para venderem suas mercadorias. O principal meio de transporte utilizado era a carroça, porém as estradas não eram de qualidade, fazendo com que a viagem fosse lenta, o que fez com que tivessem que conhecer melhor os lugares onde iam para não terem prejuízos.
Conforme o comércio se fortalecia, as moedas iam ganhando mais importância. Além do mais, passaram a se encontrar perto de florestas ou castelos para venderem seus produtos. Esses pontos de encontro fixos receberam o nome de feiras.
            As feiras medievais eram longas, duravam de 15 a 60 dias e aconteciam uma ou duas vezes por ano. Geralmente vinham mercadores de todos os lados trazendo as mais variadas mercadorias. Como cada um trazia uma moeda diferente, surgiu nesse período a profissão de cambista, que era o responsável pela troca das moedas (o câmbio). As moedas ficavam sobre um banco de madeira, por isso esses cambistas passaram a ser chamados de banqueiros, estes que logo começaram a lucrar com empréstimo de dinheiro a juros.
           

Rua de feira na França do século XV (Ville au Moyen Age). Disponível em: encurtador.com.br/ntHJK


Os burgos: cidades medievais

            Algumas feiras foram tão bem-sucedidas que passaram a permanecer o ano inteiro, muitas se transformaram em cidades, chamadas de burgos. Seus habitantes, os comerciantes/mercadores eram chamados de burgueses. No entanto, esse processo de urbanização no Ocidente foi bem lento.
O comércio não foi o único caminho para o surgimento das cidades. Estas surgiram também perto de locais de peregrinação, próximo a igrejas, no cruzamento de estradas mais movimentadas e de rotas comerciais, entre outros. Quanto mais as cidades cresciam, mais o comércio se fortalecia e vice-versa.


Reconstituição hipotética da cidade Medieval Silves, Portugal. Disponível em: http://www.terraruiva.pt/2017/08/28/relato-da-cidade-sitiada-silves-1189-ii-parte/silves-a-cidade-medieval-2/

            A categoria dos artesãos se tornou cada vez mais necessária nesse processo, abastecendo as vendas dos burgueses. Passaram a se organizar em corporações de ofício, que eram associações de profissionais de um mesmo ramo de atividade. Essas associações auxiliava os artesãos, protegendo-os da concorrência. Como faziam isso? Todos os associados deviam cobrar o mesmo valor pelo produto, deveriam usar a mesma qualidade de matéria prima e pagar quantia igual a seus assalariados. Aqueles que não eram associados encontravam dificuldade em trabalhar no ofício.
            Apesar de toda essa organização, muitas cidades se localizavam no interior das terras de um senhor feudal, um duque, conde ou bispo.  Por causa disso, seus moradores tinham que pagar impostos e prestar serviços gratuitamente como consertar estradas e pontes. Para obterem a autonomia de administração e o direito de recolher impostos e utilizá-los para o bem da própria cidade, muitos habitantes se reuniam e compravam a carta de franquia, garantindo então essa almejada liberdade.

MUDANÇAS NA EUROPA FEUDAL


O Feudalismo, que foi um modo de organização político, social e econômico baseado na posse de terra (o feudo), começou a sofrer mudanças a por volta do século XI. Os historiadores nomearam esse período de Baixa Idade Média (séculos X - XV). Vejamos alguns aspectos que contribuíram para tais mudanças.

è Crescimento demográfico - estima-se que a população da Europa Ocidental no ano 800 era composta por cerca de 18 milhões de pessoas. Já no ano 1300 aumentou para aproximadamente 50 milhões de pessoas. Isso aconteceu devido o menor índice de mortalidade causado pela menor incidência de epidemias, pela diminuição das invasões “bárbaras” e pela mudança nas guerras de disputas entre os feudos (os cavaleiros usavam armaduras melhores e não objetivavam matar os adversários, mas sim capturá-los em busca de um resgate).

è Expansão das áreas de cultivo - com mais pessoas, se tornou necessário aumentar a produção de alimentos. Para isso derrubaram mais bosques e florestas e aterraram pântanos, abrindo mais espaço para plantação.

è Aumento da produção agrícola - ocorreu devido ao aumento na quantidade da terra cultivada e de pessoas para trabalhar na produção. Além do mais, nesse período introduziram importantes técnicas agrícolas, como:

- CHARRUA – arado de ferro que passou a substituir o arado de madeira, tonando-se possível movimentar a terra com mais profundidade.

Charrua. Fonte: Boulos Junior, A. História, sociedade & cidadania, 7ºano, 3ªed. São Paulo: FTD, 2015



- ROTAÇÃO TRIENAL: dividia-se o terreno em três campos. Cultivava-se dois campos enquanto o terceiro permanecia em descanso. Com isso, o solo produzia mais, já que era possível fazer duas colheitas por ano.


- PEITORAL: os cavalos que antes eram atrelados ao arado pelo pescoço, passaram a ser atrelados pelo peito, aumentando assim o seu rendimento e resistência no trabalho.

 
Iluminura retirada do Livro das horas, c.1527. 
Fonte: Boulos Junior, A. História, sociedade & cidadania, 7ºano, 3ªed. São Paulo: FTD, 2015


- MOINHOS DE VENTO E DE ÁGUA: foram aprimorados, aumentando assim a velocidade e a qualidade da moagem dos grãos.

            Com o aumento da produção agrícola, a população melhorou seus hábitos alimentares, melhorando a expectativa de vida das pessoas. Além do mais, tornou-se possível alimentar um maior número de cabeças de gado, aumentando, portanto, os rebanhos e a oferta de carne e de matéria prima para artesanato, como lã e couro.
            Porém, a mudança principal está na utilização dos gêneros alimentícios e artesanais produzidos nos feudos. A produção, que antes era para a subsistência, passou a ter excedentes, ou seja, começou-se a produzir mais do que a comunidade precisava. Passaram então a vender aquilo que “sobrava”. Esse movimento faz com que haja o que os historiadores chamam de RENASCIMENTO COMERCIAL E URBANO.