COLONIZAÇÃO ESPANHOLA
UM NOVO OLHAR SOBRE AS RAZÕES DA CONQUISTA ESPANHOLA
Cortez chegou ao México com apenas
508 homens e Pizarro entrou no Peru com 180. Como foi então que centenas de
espanhóis conseguiram vencer milhões de nativos? Essa é uma pergunta que sempre
provocou a curiosidade dos historiadores.
Segundo o historiador Matthew
Restall, a Conquista espanhola da América não foi rápida e nem total. A
Conquista de Tenochtitlán, em 1521, e de Cuzco, em 1533, significou a Conquista
das capitais dos impérios asteca e inca e não do território desses impérios
como um todo. A expansão dos conquistadores espanhóis em território americano
foi gradual e encontrou sérias resistências por parte dos indígenas. Em algumas
regiões, a resistência indígena durou décadas e até séculos; o controle
espanhol sobre o Chile, por exemplo, só se completou no século XIX. Segundo o
historiador Matthew Restall, a Conquista espanhola da América deveu-se a quatro
fatores principais.
O primeiro e mais determinante foram as doenças, contra as quais os
corpos indígenas não tinham resistência; as doenças trazidas pelos espanhóis,
como sarampo, varíola e gripe mataram mais que as armas de fogo. O sucessor de
Montezuma foi uma dessas vítimas: reinou apenas oitenta dias e morreu de varíola.
Segundo: os espanhóis souberam se aproveitar da desunião e da
rivalidade entre os ameríndios. Tanto os astecas quanto os incas tinham muitos
inimigos que formaram verdadeiros exércitos indígenas para ajudar os espanhóis
a tomar terras astecas e incas. Para tomar Tenochtitlán, por exemplo, Cortez
contou com a ajuda de 200 mil combatentes indígenas dispostos a derrubar o
centro do poder asteca.
O terceiro fator foram as armas dos conquistadores, com destaque para
a espada (resistência), o cavalo (mobilidade) e as armas de fogo, com um poder
destrutivo superior às armas dos indígenas e que, no caso do canhão, impressionavam
também pelo barulho que faziam.
O quarto fator foi o fato de os ameríndios lutarem em sua própria
terra e precisarem proteger seus parentes, suas casas, seus plantios; por isso,
às vezes preferiam negociar do que combater os espanhóis pelas armas, já os
espanhóis tinham de se preocupar apenas com as suas próprias vidas e em como
fazer para conquistar mais cidades e riquezas.
Some-se a isto o fato de os
espanhóis usarem intérpretes e guias nativos ou náufragos para conhecer os
pontos fracos de seus adversários e estimular a discórdia e a guerra entre
eles. O pesquisador Tzvetan Todorov calcula que antes da chegada de Colombo
(1492), viviam na América cerca de 80 milhões de ameríndios. Em 1560, restariam
cerca de dez milhões! Essa diminuição brusca da população ameríndia é considerada
por ele como uma das maiores tragédias da história humana.
COLONIZAÇÃO
ESPANHOLA DA AMÉRICA
Durante o processo de Conquista,
os espanhóis iniciaram também a colonização da América, isto é, a ocupação,
exploração e administração do território americano.
Economia
colonial
Nos primeiros duzentos e
cinquenta anos da colonização, vida econômica na América espanhola foi a
mineração.
·
A
mineração
Foi com a descoberta das ricas
minas de prata de Potosi (atual Bolivia), em 1545, e Zacatecas (atual México),
no ano seguinte, que a mineração se transformou na atividade mais importante na
América espanhola. Considerando as minas como propriedade sua, o rei da Espanha
mandou distribuir lotes auríferos àqueles que tivessem dinheiro para iniciar
sua exploração. Já o penoso trabalho de arrancar a prata do fundo das minas
deveria ser feito pelos indígenas.
·
O
trabalho forçado dos indígenas
As duas principais formas de
trabalho forçado na América espanhola foram a mita e a encomienda.
A mita era a obrigação que
os membros das aldeias tinham de trabalhar para os espanhóis quatro meses por
ano. Esses trabalhadores (os mitayos) recebiam por seu trabalho cerca de um
terço do salário de um trabalhador livre daquela época.
A encomienda era o direito
dado ao colono espanhol (encomendero)
de explorar o trabalho indígena nas minas, plantações e fazendas. Em troca, o
colono devia pagar tributos à metrópole espanhola e dar aos indígenas assistência
material e religiosa, ou seja, alimentá-los e ensinar-lhes a religião católica.
Mas os colonos quase nunca cumpriam a sua parte: milhares de índios morreram por
maus-tratos e/ou fome.
·
Agropecuária
Na América espanhola se praticou
também a agricultura, a pecuária e a confecção de panos grosseiros (tecelagem).
Entre as plantas mais cultivadas estavam o cacau, a batata, o milho e o tabaco
(nativas da América) e a cana-de-açúcar (introduzida na América pelos
europeus); além disso, criava-se gado de corte e de transporte (como mulas e
cavalos).
Com o declínio da mineração no
final do século XVIII, a agricultura e a pecuária se desenvolveram ainda mais;
aumentou o número de fazendas que produziam gêneros como cacau (Venezuela),
açúcar e tabaco (Santo Domingo e Cuba). Os trabalhadores das fazendas eram,
geralmente, africanos escravizados, trazido dos para a América em grande número
a partir da segunda metade do século XVII. A grande fazenda escravista
produtora de um gênero tropical (açúcar, cacau, anil etc.) destinado ao mercado
externo é chamada de plantation. [...]
·
O
controle da colônia pela metrópole
Para cuidar de seus negócios com
a América espanhola e exercer um controle rígido sobre a região, a Espanha
criou dois importantes órgãos:
a) A Casa de
Contratação: órgão encarregado de controlar o comércio e a navegação entre
a Espanha e suas colônias americanas; funcionava desde 1503, na cidade portuária
de Sevilha, na Espanha.
O controle era feito pelo
sistema de portos únicos: os navios destinados ao comércio com a América
espanhola só podiam sair ou entrar por Sevilha, na Espanha. E os navios que iam
da América para a Espanha só podiam sair de Havana (Cuba), Vera Cruz (México),
Cartagena (Colômbia) e Porto Belo (Panamá). Esse sistema permitia à Espanha
auferir lucros extraordinários.
b) O Conselho das Índias: órgão criado pela Espanha
para cuidar dos negócios com as suas colônias na América. Criado em 1524, o
órgão era formado por um conselho nomeado e dirigi do pelo próprio rei da
Espanha. Seu poder era imenso: podia fazer as leis, ministrar a justiça e
nomear (e destituir) funcionários para as colônias.
Esses dois órgãos - a Casa de
Contratação e o Conselho das Índias contribuíram para a política mercantilista
da Espanha, que visava - aumentar o poder e a riqueza da monarquia espanhola e
seus aliados.
·
Sociedade
e poder na América espanhola
As sociedades hispano-americanas
eram formadas basicamente cinco grupos: chapetones, criollos, mestiços, indígenas e negros escravizados.
- Chapetones:
colonos nascidos na Espanha; ocupavam os principais cargos políticos, militares
e religiosos e tinham enormes privilégios.
- Criollos: filhos de espanhóis
nascidos na América. Eram ricos fazendeiros, donos de minas e grandes comerciantes.
Eram impedidos de ocupar altos cargos, exceto o de vereador nas Câmaras
Municipais (cabildos).
- Mestiços:
filhos de espanhóis ou de criollos
com índias ou africanas. Ocupavam funções de pouco prestigio como pedreiros,
carpinteiros, ferreiros e capatazes de fazenda.
- Indígenas:
constituíam a maioria da população e eram duramente explorados nas fazendas,
nas tecelagens e nas minas.
- Africanos
escravizados: trabalhavam principalmente nas grandes plantações de cacau na
Colômbia, Equador, Venezuela e Cuba. No início da colonização, o número de
escravizados na América espanhola era pequeno.
As sociedades coloniais
hispano-americanas eram, portanto, formadas por uma minoria de brancos com
grande riqueza e poder, e uma maioria de índios, mestiços e africanos que
realizavam trabalho mal remunerado ou escravo. Além disso, índios, negros e
mestiços eram discriminados pelas elites coloniais; os mestiços, por exemplo,
eram proibidos de circular com armas, joias de ouro ou roupas de seda.
·
Administração
espanhola
Inicialmente, o governo da
Espanha transferiu a particulares, homens como Cortez e Pizarro, o direito de
conquistar e explorar as terras americanas. Esses homens, os adelantados
(adiantados), recebiam dos reis da Espanha o poder político e militar na
América, mas eram obrigados a enviar para lá um quinto de toda a riqueza
extraída e produzida nas áreas conquistadas por eles.
Depois, vendo que a produção de riquezas americanas vinha aumentando, mas eram desviadas, a monarquia espanhola anulou o poder dos adelantados e aumentou seu controle sobre a América espanhola dividindo a região em vice-reinados. Inicialmente, instituiu dois deles: o Vice-Reinado de Nova Espanha (1535), no atual México; o Vice-Reinado do Peru (1542). Posteriormente, já no século XVIII, outros dois: o de Nova Granada e o do Rio da Prata. Para defender as colônias de ataques de piratas, fato comum na época, o governo espanhol criou também as capitanias gerais de Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile, todas situadas em áreas estratégicas. Observe o mapa.
No território colonial foram
criadas também as Câmaras Municipais; essas câmaras - chamadas na América
espanhola de cabildos - eram encarregadas de administrar as cidades, fazer
cumprir as leis do governo espanhol e também pela segurança. Os vereadores das
câmaras eram quase sempre os filhos de espanhóis nascidos na América, que no
final do período colonial passaram a ser chamados de criollos.
BOULOS JUNIOR, Alfredo. História & Sociedade, 7º ano - 3ª ed. São Paulo: FTD, 2015. p. 255 a 262.
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