terça-feira, 1 de setembro de 2020

COLONIZAÇÃO ESPANHOLA


 UM NOVO OLHAR SOBRE AS RAZÕES DA CONQUISTA ESPANHOLA

 

Cortez chegou ao México com apenas 508 homens e Pizarro entrou no Peru com 180. Como foi então que centenas de espanhóis conseguiram vencer milhões de nativos? Essa é uma pergunta que sempre provocou a curiosidade dos historiadores.

Segundo o historiador Matthew Restall, a Conquista espanhola da América não foi rápida e nem total. A Conquista de Tenochtitlán, em 1521, e de Cuzco, em 1533, significou a Conquista das capitais dos impérios asteca e inca e não do território desses impérios como um todo. A expansão dos conquistadores espanhóis em território americano foi gradual e encontrou sérias resistências por parte dos indígenas. Em algumas regiões, a resistência indígena durou décadas e até séculos; o controle espanhol sobre o Chile, por exemplo, só se completou no século XIX. Segundo o historiador Matthew Restall, a Conquista espanhola da América deveu-se a quatro fatores principais.

O primeiro e mais determinante foram as doenças, contra as quais os corpos indígenas não tinham resistência; as doenças trazidas pelos espanhóis, como sarampo, varíola e gripe mataram mais que as armas de fogo. O sucessor de Montezuma foi uma dessas vítimas: reinou apenas oitenta dias e morreu de varíola.

Segundo: os espanhóis souberam se aproveitar da desunião e da rivalidade entre os ameríndios. Tanto os astecas quanto os incas tinham muitos inimigos que formaram verdadeiros exércitos indígenas para ajudar os espanhóis a tomar terras astecas e incas. Para tomar Tenochtitlán, por exemplo, Cortez contou com a ajuda de 200 mil combatentes indígenas dispostos a derrubar o centro do poder asteca.

O terceiro fator foram as armas dos conquistadores, com destaque para a espada (resistência), o cavalo (mobilidade) e as armas de fogo, com um poder destrutivo superior às armas dos indígenas e que, no caso do canhão, impressionavam também pelo barulho que faziam.

O quarto fator foi o fato de os ameríndios lutarem em sua própria terra e precisarem proteger seus parentes, suas casas, seus plantios; por isso, às vezes preferiam negociar do que combater os espanhóis pelas armas, já os espanhóis tinham de se preocupar apenas com as suas próprias vidas e em como fazer para conquistar mais cidades e riquezas.

Some-se a isto o fato de os espanhóis usarem intérpretes e guias nativos ou náufragos para conhecer os pontos fracos de seus adversários e estimular a discórdia e a guerra entre eles. O pesquisador Tzvetan Todorov calcula que antes da chegada de Colombo (1492), viviam na América cerca de 80 milhões de ameríndios. Em 1560, restariam cerca de dez milhões! Essa diminuição brusca da população ameríndia é considerada por ele como uma das maiores tragédias da história humana.

 

COLONIZAÇÃO ESPANHOLA DA AMÉRICA

 

Durante o processo de Conquista, os espanhóis iniciaram também a colonização da América, isto é, a ocupação, exploração e administração do território americano.

 

Economia colonial

 

Nos primeiros duzentos e cinquenta anos da colonização, vida econômica na América espanhola foi a mineração.

 

·         A mineração

 

Foi com a descoberta das ricas minas de prata de Potosi (atual Bolivia), em 1545, e Zacatecas (atual México), no ano seguinte, que a mineração se transformou na atividade mais importante na América espanhola. Considerando as minas como propriedade sua, o rei da Espanha mandou distribuir lotes auríferos àqueles que tivessem dinheiro para iniciar sua exploração. Já o penoso trabalho de arrancar a prata do fundo das minas deveria ser feito pelos indígenas.

 

·         O trabalho forçado dos indígenas

 

As duas principais formas de trabalho forçado na América espanhola foram a mita e a encomienda.

A mita era a obrigação que os membros das aldeias tinham de trabalhar para os espanhóis quatro meses por ano. Esses trabalhadores (os mitayos) recebiam por seu trabalho cerca de um terço do salário de um trabalhador livre daquela época.

A encomienda era o direito dado ao colono espanhol (encomendero) de explorar o trabalho indígena nas minas, plantações e fazendas. Em troca, o colono devia pagar tributos à metrópole espanhola e dar aos indígenas assistência material e religiosa, ou seja, alimentá-los e ensinar-lhes a religião católica. Mas os colonos quase nunca cumpriam a sua parte: milhares de índios morreram por maus-tratos e/ou fome.

 

·         Agropecuária

 

Na América espanhola se praticou também a agricultura, a pecuária e a confecção de panos grosseiros (tecelagem). Entre as plantas mais cultivadas estavam o cacau, a batata, o milho e o tabaco (nativas da América) e a cana-de-açúcar (introduzida na América pelos europeus); além disso, criava-se gado de corte e de transporte (como mulas e cavalos).

Com o declínio da mineração no final do século XVIII, a agricultura e a pecuária se desenvolveram ainda mais; aumentou o número de fazendas que produziam gêneros como cacau (Venezuela), açúcar e tabaco (Santo Domingo e Cuba). Os trabalhadores das fazendas eram, geralmente, africanos escravizados, trazido dos para a América em grande número a partir da segunda metade do século XVII. A grande fazenda escravista produtora de um gênero tropical (açúcar, cacau, anil etc.) destinado ao mercado externo é chamada de plantation. [...]

 

·         O controle da colônia pela metrópole

 

Para cuidar de seus negócios com a América espanhola e exercer um controle rígido sobre a região, a Espanha criou dois importantes órgãos:

 

a) A Casa de Contratação: órgão encarregado de controlar o comércio e a navegação entre a Espanha e suas colônias americanas; funcionava desde 1503, na cidade portuária de Sevilha, na Espanha.

O controle era feito pelo sistema de portos únicos: os navios destinados ao comércio com a América espanhola só podiam sair ou entrar por Sevilha, na Espanha. E os navios que iam da América para a Espanha só podiam sair de Havana (Cuba), Vera Cruz (México), Cartagena (Colômbia) e Porto Belo (Panamá). Esse sistema permitia à Espanha auferir lucros extraordinários.

 

b) O Conselho das Índias: órgão criado pela Espanha para cuidar dos negócios com as suas colônias na América. Criado em 1524, o órgão era formado por um conselho nomeado e dirigi do pelo próprio rei da Espanha. Seu poder era imenso: podia fazer as leis, ministrar a justiça e nomear (e destituir) funcionários para as colônias.

Esses dois órgãos - a Casa de Contratação e o Conselho das Índias contribuíram para a política mercantilista da Espanha, que visava - aumentar o poder e a riqueza da monarquia espanhola e seus aliados.

 

·         Sociedade e poder na América espanhola

 

As sociedades hispano-americanas eram formadas basicamente cinco grupos: chapetones, criollos, mestiços, indígenas e negros escravizados.

 

- Chapetones: colonos nascidos na Espanha; ocupavam os principais cargos políticos, militares e religiosos e tinham enormes privilégios.

- Criollos: filhos de espanhóis nascidos na América. Eram ricos fazendeiros, donos de minas e grandes comerciantes. Eram impedidos de ocupar altos cargos, exceto o de vereador nas Câmaras Municipais (cabildos).

- Mestiços: filhos de espanhóis ou de criollos com índias ou africanas. Ocupavam funções de pouco prestigio como pedreiros, carpinteiros, ferreiros e capatazes de fazenda.

- Indígenas: constituíam a maioria da população e eram duramente explorados nas fazendas, nas tecelagens e nas minas.

- Africanos escravizados: trabalhavam principalmente nas grandes plantações de cacau na Colômbia, Equador, Venezuela e Cuba. No início da colonização, o número de escravizados na América espanhola era pequeno.

 

As sociedades coloniais hispano-americanas eram, portanto, formadas por uma minoria de brancos com grande riqueza e poder, e uma maioria de índios, mestiços e africanos que realizavam trabalho mal remunerado ou escravo. Além disso, índios, negros e mestiços eram discriminados pelas elites coloniais; os mestiços, por exemplo, eram proibidos de circular com armas, joias de ouro ou roupas de seda.

 

·         Administração espanhola

 

Inicialmente, o governo da Espanha transferiu a particulares, homens como Cortez e Pizarro, o direito de conquistar e explorar as terras americanas. Esses homens, os adelantados (adiantados), recebiam dos reis da Espanha o poder político e militar na América, mas eram obrigados a enviar para lá um quinto de toda a riqueza extraída e produzida nas áreas conquistadas por eles.

Depois, vendo que a produção de riquezas americanas vinha aumentando, mas eram desviadas, a monarquia espanhola anulou o poder dos adelantados e aumentou seu controle sobre a América espanhola dividindo a região em vice-reinados. Inicialmente, instituiu dois deles: o Vice-Reinado de Nova Espanha (1535), no atual México; o Vice-Reinado do Peru (1542). Posteriormente, já no século XVIII, outros dois: o de Nova Granada e o do Rio da Prata. Para defender as colônias de ataques de piratas, fato comum na época, o governo espanhol criou também as capitanias gerais de Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile, todas situadas em áreas estratégicas. Observe o mapa.



No território colonial foram criadas também as Câmaras Municipais; essas câmaras - chamadas na América espanhola de cabildos - eram encarregadas de administrar as cidades, fazer cumprir as leis do governo espanhol e também pela segurança. Os vereadores das câmaras eram quase sempre os filhos de espanhóis nascidos na América, que no final do período colonial passaram a ser chamados de criollos.


BOULOS JUNIOR, Alfredo. História & Sociedade, 7º ano - 3ª ed. São Paulo: FTD, 2015. p. 255 a 262.

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